sexta-feira, 22 de agosto de 2008

"Recordação II"

essa atmosfera de frigidez,
de incapacidade de sentir,
de incapacidade de dizer o que sentir é,
transcede instâncias, amolesce sumos,
aferrolha dias, escarna noites,
se aloja nesse desmanche,
abaixo da tensa luz,
luz essa plástica.

esse par de pés, de mãos
pousadas na inócua e oleosa cama
reduz-me às personas
as quais evito encarnar:
de histórias irresolutas, antigas,
ainda desconhecidas
e irreconhecíveis.

esses dedos brilhosos, rutilantes quase,
apontam para a cômoda espelhada,
com suas artérias pulsando em luz,
tristes, lastimosas, dolentes.

recompenso então todos os olhares,
aqueles entumescidos no humor
da fealdade, permeados
no anseio mais tênue,
que é estar perto do ter sido,
e longe do estar sendo.



junho de 2006

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