segunda-feira, 15 de junho de 2009

"O corpo da noite"

o corpo, esta noite,
é o do teu vazio torpor:

acariciado, maltratado
como se fosse o último de todos.

corpo cansado,
este deixa-se ao deleite
e à volúpia das curvas constantes
da perna e do seio da noite.

e o corpo desta noite,
permanece espreitado, mansamente
retardado, envenenado,
vazio e enluteado,
acariciado, impermanente,
guardado por mim.

no corpo da noite,
todo sem órgãos,
caminhava sem sonhos,
hoje caminho sem pés.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Paisagem imaginária VI ou Alvura"

a alvura
é senão confirmação:

totalidade de meus corpos vibráteis,
numa bela confluência correndo pelo meu umbigo,
e desembocando na terra do desconhecido.

... o branco brinca na minha alma,
de ser senão negação.

a alvura é a contradição de minha existência:
confirma-me ou devoro-te?

quanto muito, é uma música inaudível,
mas que vibra grande.

(tantas vezes quanto for preciso para nós)

... a alvura se vive,
e sua música me inunda grandemente:

me vence sempre como a luz que se doa.

"Paisagem imaginária VI ou Parasempre"

a escavação de meu peito
deu-se
às custas
da profecia de encontrar-me
naquilo ao qual circundo.

_________ paralizo-me diante da garoa
mas regozijo ao ver que embora não me achando,
espero que tudo que acontece,
acontece a partir de agora, parasempre.

_________ a arqueologia de meu peito:


forever, flowers
in my hopily soil deflowering
a mountful of bodies of mine

- utmost blood filled with blooming cells -

forever, petals
of my body as dull staring objects towards pleasure
(althought) and it is oficially pleasurable

- only if it is wrapped within the deepest trunks of you -

forever, yours
your body sleeps by the boundaries of yours, totally
producing smells of floral enchantment



- "kissingly, i will bring you every spring" - e. e. commings

segunda-feira, 23 de março de 2009

"Paisagem V ou Nirvana ou O vento que se veste"

nasci
para dar adeus.

(para ti, para mim, para ele, para ela)

... e realizá-lo tanto é
que não somente sequência
ao decurso de meu espírito:

é criação de recursos
na reprodução dos meus impulsos,
- pulsos finos, brincos lindos -
para que eu aprenda finamente a viver.


mas nasci para viver
e me perder.

e na perda de mim mesmo
em meio ao desejo de frente
e ao lamento de trás e
em meio ao desejo meu por ti,
que querendo nunca acabar,
finalmente acaba...

... meu adeus é premente àquilo que me recebe,
sumamente se desfaz em microespasmos de glória,
me ajoelho perante a luz
e percebo que meu adeus
foi o vento que, repentinamente,
se vestiu com cores.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Paisagem IV ou A noite esclarece"

tu: uma forma de
sim
contendo o
não.

é a tua silhoueta?
jogo de claros e escuros.

... não, não vem de agora
a agonia do escuro, luz apagada.

tão foi de repente.

... talvez porque és a apoteose de mim.
esclarecimento.

... sim, se assim pareço frio,
é porque lido agora,
com a renovação do tu:
posso te chamar de você?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Paisagem Imaginaria IV ou Luto iluminado"

____ cedo, amor
o que vejo é um nada:

____________________

e tu, que eras pomba,
arrebentando o meu peito?

______________________

esperei tanto pelo tempo,
engendrado na cruel batida do cigarro,
em que me estreitariam
a capacidade do olhar-te
enquanto carne:

____ e quando pude ver-te fora dela,
resolvi me despedir,
pois tu me nasceste
tão devagar, tão rude
pelo peito
que o deixou aberto,
semi claro.

sinto muito, tua exposição...

não posso lidá-la.

_______________

o que restou do meu peito é

...

a paisagem desolada do seu murmúrio.,
fragmentada, doída, lacunar.

sábado, 17 de janeiro de 2009

"Paisagem Imaginária III ou Meia claridade"

semi lu
z de meia
palidez
quase
-
carne
perto de c
ai
r incompleto
(prazer ao léu)
natur
eza morta
aos miúdos
fruta v
ermelha
esfacelada
semi aberto
e
m meia lua
perto
da quase
tristeza
de carregar nas costas
incompletude
(meia) claridade comp
leta

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"Paisagem Imaginária II ou O lento arder"

neste mundo de sonhos e cores,
de nudez e de flores,
te vejo a lentamente assombrar-me,

(uneasy beach,
white bank of sand,
glistening at a backward world
still to be processed)

pois não me cabe ver-te como tal,
pois tu não cabes no sonho ou na cor,
e normalizado não és normal
conquanto me normatizo em teu alvor.

e ardo (for my core is pure sore,
at the midst of an inpure tornado.)

ardendo... não importa,
a atmosfera é a que se nunca espera,
seja quando comporta o conforto
seja enquanto tu andas na praia de nossa era, distante.

(i see who you are
behind the one self
within us all)

como sujeito semi-etéreo,
te tenho, material bruto de bolhas e brilhos,
como uma metade do meu engenho
ao procurar por mim mesmo,
no mais íntimo dos recônditos do espelho.

(the ultimate silence in its greater sense)

enquanto crio
e descrio
e recrio
nossa distância...

(mumbling towards oblivion)

sofro como uma algaravia presa numa garganta de grave grito.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

"Paisagem III ou O certo mutismo"

...um certo mutismo.

(o sentimento do frio,
a sensação do gelo,
o cheiro da terra,
calidez da sol,
palidez da flor)

o amor é enorme.

não é negação,
é estar invisível no seio de tudo,
ressoando grande.

não se vive como tal:
se inunda toda montanha.

te inundo e te venço como uma onda de tamanho indescritível.