I - morte
teu corpo a mim
fechado em dor,
me fez acordar
e ver a luz
brilhante
como mais
um artifício,
teu a me apear.
(rútila luz,
parte de ti
em direção a mim
-
a luz do céu;
cujos pesados raios
caem sobre mim)
... meu mundo, minha vida
fecham-se para mim
e não sou
mais...
(...eles abrem
sobre ti
e me abro
a seus desejos
como um campo de flores
- prelúdio nosso)
... e eu,
contando sóis
marcando cicatrizes
em meu rosto,
fecho meus olhos.
... tu fechas os olhos e eu morro.
(luminescência a trazer consciência)
II - reflexão acerca de ti
"tu foste algo de anjo,
algo de diabo,
a me irmanar,
com asas híbridas de humano.
e das flores do campo que és tu,
colhi as mais simples.
também benzi o bálsamo de tua pele,
e o espalhei sobre meu ventre:
vi teu resto a refletir
uma lua turva de perdas irreais e vazias
(lençol sem sangue, puro
- prova de intocável amanhecer -
exposto à luz do sol)
da tua lua,
descendeu a neve, demorada, a cair,
e soterrar meu amor entre pedras de gelo.
teus olhos negros foram eclipses
a me esconder de ti mesmo
na tua própria penumbra.
... houve teu sorriso,
desconexo no vazio que restou:
forma pálida de gozo.
mas sem ti não há amanhecer,
nem ascenção, nem flores.
... e para além do céu de seus olhos
escondem-se lá alguns lírios,
como mares evanescentes de neve:
águas-vivas cristais a esfuziar na luz pequena do dia.
teu mar provou-se um rio,
e nada mais.
... enquanto isso,
nuvens cruzam o meu céu,
enquanto flores morrem."
III - (re)nascimento
através de ruas altas,
banhadas pelo sol,
encontro-me caído e cambaleante.
banhado por neve a derreter,
sonho com um interminável prelúdio -
o outono.
quando me ergo e me lembro dos teus olhos,
de abissalidade negra,
de riquezas demais,
sinto-me anterior
ao nascimento:
ao te rever
meu coração é
nada mais
que uma borboleta estática.
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